domingo, 28 de fevereiro de 2010

Pedro 9

Enviada a 11 de Dezembro de 2009, às 22:23


Viva Inês


Quando leio os seus textos (de repente senti alguma nostalgia dos tempos em que me deliciava com a recepção das cartas escritas... em que o telefone era caro - ainda é - as distancias intransponíveis e esta coisa dos e-mails nem sequer se desenhava...) sinto que estou a ler os textos de um blog exclusivo que me tem por leitor privilegiado e único.

É uma sensação boa... mas não resisto a perguntar-lhe se nunca pensou em escrever um blog próprio... Seria o seu fã número 1!!!

Hoje sou eu a entregar-me ao devaneio da minha escrita, sabendo-a destinada ao seu entendimento.

Todos os dias chego ao fim com uma terrível sensação de cansaço, acentuada pela sensação de que estou sozinho no lugar onde muitos se dizem querer presentes, fazendo dessa possibilidade uma promessa a cumprir noutro tempo que não este em que me sento à mesa de um lugar de passagem anónimo, bebendo um café vazio...

Levo algum tempo a deixar partir todas as presenças por cumprir... mas acabo por conseguir fazê-lo, à custa de alguma determinação e disciplina.

Consigo resistir à tentação e ao desafio que me é constantemente lançado de, mesmo à distância, aceitar presenças que se cumprem pela ideia de que estou a elas obrigado, pelos compromissos a que entendem que estou ou devia estar vinculado.

Não contrario os entendimentos que justificam, em cada um dos prometidos e propostos futuros presentes, as ausências que dizem impossíveis de contornar. Fazê-lo, não os faria mais presentes do que o são de facto.

O lugar à minha frente continua vazio... Por ter consciência permanente deste quadro da minha existência, aceito todas as presenças, mesmo as virtuais... só não me peçam para olhar para o lugar vazio que tenho à frente e ver quem lá não está, condicionando voluntariamente a minha existência aos gestos que faria se a sua presença fosse efectiva.

Durante anos permaneci prisioneiro dos inúmeros fantasmas que se queriam presentes, mas que estavam sempre noutro lugar qualquer. Reconheço que doeu perceber que tinha a vida feita num oito por via de tudo aquilo que podia ou não fazer, em nome de todas as promessas de presenças por cumprir.

Agora, para desespero dos que não se conseguem aceitar longe, nos lugares em que estão, sem criarem uma rede virtual de laços de promessas a cumprir um dia qualquer, constituída pelas pessoas que tomam por objecto dos seus afectos, digo sempre: entro livre, permaneço em liberdade, e parto tão livre como entrei. Não há antes nem depois, não há histórias a preservar nem propósitos a cumprir. E o que refiro em relação a mim, reconheço no acto, em relação a quem comigo partilha alguma coisa. As relações que estabeleço não valem pelo que vai acontecer... mas pelo que acontece ou não.

E o estranho é que a frieza e dureza que me é atribuída nunca é comprovada pelos factos e actos de que se dão conta na história das suas relações comigo. Torno-me mais afectuoso, mais disponível, mais presente... Mas estranho mesmo, é que há quem prefira de mim a experiência de uma presença fantasiosa e a cumprir, do que a presença efectiva, livre, sem dor, nas condições que a vida permite.

Este é o meu exercício de libertação de todas as ausências de que me dou conta, antes de mergulhar num fim-de-semana absolutamente real, de prazer de me descobrir vivo nos lugares em que estiver.

Sei que tudo isto lhe deve parecer maçador... mas coincidiu com o momento em que me sentei e decidi partilhar-me consigo, por breves instantes.

Guardo de si a ternura e o encanto que ganha corpo na escrita que se permite em relação a mim, seguindo de sorriso posto.

Tenha uma noite de acordo com os seus desejos de bem-estar, com um abraço só seu

Beijinho grande

Pedro

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