terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Inês 2

Enviada a 7 de Dezembro de 2009, às 21.44h

Boa noite, Pedro.

Tenho a sensação que o dia de hoje me pareceu mais longo perante a perspectiva de escrever pelos caminhos do seu silêncio….

Porque não enviar-lhe, hoje, as palavras no bico de um pássaro? O mais colorido que encontrar! Para que ele as carregue até este lugar, onde desapareço todos os dias, onde me encontro em cada noite….e para que não se percam, irei colá-las uma a uma, cuidadosamente, na folha em branco que enviarei, amarrada com fita de seda evitando que alguma se atreva a fugir.

Gostei muito da música que me enviou, numa versão que desconhecia. Ainda bem que o fez! Ouvia apenas a versão inglesa, da banda sonora do filme “Closer” (Conhece o filme? Retribuo com o link dessa versão http://www.youtube.com/watch?v=5YXVMCHG-Nk). Fez-me recordar tempos idos, uma fase da minha vida que já encerrei, mas que recordo com algum prazer. Foi um tempo de recomeço, de redescoberta do que fui e do que pretendia ser, de recuperação de uma auto-estima perdida, após uma clausura de quinze anos que permiti que me aniquilasse por completo (essa é uma longa história que reservarei para outra ocasião, caso se proporcione…).

Aprendi a conviver comigo, a apreciar-me no meu todo, descobri prazeres escondidos e desprezados durante quase uma vida. Iniciei-me nas saídas a sós… comigo, derrubando barreiras, sem pressa, saboreando intensamente cada segundo para que parecesse eterno, num crescente e imenso prolongado estímulo. O “Closer” foi precisamente um desses momentos, que tanto receei, pela simples ausência de quem partilhasse aquela escuridão. Tinha pavor das gargalhadas que pudesse soltar, ou mais desesperante ainda, das lágrimas que pudesse soltar sem conseguir conter.

Foram muitos os soluços que abafei….

Mas rapidamente entendi que as nossas tristezas e frustrações só servem para olharmos para o nosso presente, e fazermos com ele um futuro melhor. Convicta e empenhadamente! Sem receio do que antes não fomos capazes, mas com a lucidez de sabermos que está ao nosso alcance tudo aquilo que sabemos merecer!

Até porque o medo nos turva os olhos, restringe horizontes, esconde as oportunidades. Limita-nos a um mundo exclusivamente nosso, aguardando a aproximação da primavera, que tarda em chegar….

É inegável que as experiências que vivenciamos no nosso trajecto nos transformam, nos amadurecem e em certa medida, nos endurecem. Tornamo-nos mais firmes nos príncipios, nas ideias que nos regem. É um processo tão célere, que quando nos apercebemos, já assimilámos de tal forma essas vivências, que já são o que somos. Apesar de… ainda continuar a ter a sensação que uma parte da nossa vida é o que somos, sendo a outra parte o que para nós inventam (é natural que acabemos por acreditar naquilo que vemos reflectido nos outros_ afinal serão sempre eles o nosso espelho).

Por vezes, os mais atentos surpreendem-nos, quando se apercebem do que tentamos reprimir. Tem toda a razão quando afirma “Quando a leio, fico com a sensação de que há uma parte de si que transborda os diques da contenção da sua necessidade de comunicar, num registo menos comum que aquele a que nos sentimos obrigados ou limitados…” (mais uma característica sua que me é dada a conhecer…ou será antes minha!??).

Confesso que os “diques” a que se refere, se aplicam a muito mais do que é possível observar…. (mas isso poderá ser tema para outra das minhas divagações, se entretanto não se cansar…até porque eu sou uma caixinha de surpresas)

E por aqui me fico, por agora, na esperança de que o meu pássaro seja capaz de levar estas palavras a bom porto.

Um beijinho doce para aconchegar nesta noite de Outono.

Inês

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