segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Inês 1

Enviada a 6 de Dezembro de 2009, às 19.20h

Boa tarde… Pedro…
(Assim está melhor? …Por favor, não regresse aos formalismos…não…não…)

Mais uma vez, sentada nestes módicos metros quadrados onde reino, permaneço estática a olhar para o monitor em branco, sem ponta de inspiração. As palavras amontoam-se na minha mente, mas o processo criativo não despoleta. Tinha esperança que o simples movimento de me recostar na cadeira pudesse acelerar a passagem das ideias para os quatro ângulos rectos a que se confina este espaço, atrevendo-me a transformar em palavras todos os pensamentos que me alucinam.

Mas, cada vez que os dedos se abeiram das teclas, o cérebro emite qualquer ordem e o corpo regressa à posição original (podia atribuir culpas à chuva ou à preguiça domingueira, mas tenho perfeita consciência que as suas palavras calaram as minhas…).

Admiro a sua destreza no trato com as palavras, deixando o leitor sem fôlego na tentativa de absorver todos os pensamentos, sentimentos, e emoções retratados em cada frase que escreve. Fico extremamente grata por partilhar comigo a sua escrita, por me ter sido apresentado um espaço que lhe pertence... que me cativou completamente (e garanto-lhe que não é tarefa fácil…).
Identifiquei-me em muitas passagens, personalizei-me em muitas descrições. A verdade é que em cada letra que li, descobri uma imensidão de afinidades … nas certezas e incertezas, nos momentos e lugares vazios…

Gostaria de tranquilizá-lo, quanto ao risco que refere de atravessar a tal fronteira, na medida em que se aplica a ambos os sentidos. O que partilhamos aqui, pertence-nos, o que me parece que se estivermos de acordo, nos legitima a estabelecer os limites do que se entender, sem nos subjugarmos a estereótipos impingidos sabe-se lá por quem, permitindo-nos alhear do que é entendido por “socialmente correcto”.

Confesso que alguns amigos de longa data me “acusam” de intimidar as pessoas com a plenitude da minha transparência, expondo-me demasiado perante uma realidade que me coloca numa posição vulnerável. Talvez lhes reconheça alguma razão, apenas porque a sociedade em que vivemos se recolhe perante a frontalidade, a nudez de preconceitos preconcebidos que alguém se lembrou de inventar, mas permite a filtragem dos mais resistentes, que reforçam a sua presença através dessa selecção natural, imunes a juízos idiotas, assumindo-se como são, com todos os defeitos e virtudes inerentes a qualquer ser humano.

De qualquer modo, também ficaria bastante incomodada se invadisse os limites do que me é consentido, pelo que agradeço a advertência se porventura isso se verificar em algum momento. Afinal, ambos sabemos com certeza, que a “arma” mais poderosa reside nas palavras, que quando tomam forma e ganham personalidade nos fogem do controle, adquirindo tantas interpretações quantas as realidades de quem as lê. Acredito que o maior risco habita precisamente aí.
Mas ignore esse risco, e sinta-se perfeitamente à vontade para escrever o que bem entender, para se “perder” nas palavras e continuar nesta viagem partilhada, seja com dissertações filosóficas, poesia ou meros comentários, que poderá ter a certeza não serão passíveis de interpretações erradas.

Votos de uma boa semana de trabalho.
(Posso ter a ousadia de enviar um beijo para substituir os melhores cumprimentos???? ;))))

Inês

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