domingo, 28 de fevereiro de 2010

Inês 6

Enviada a 10 de Dezembro de 2009, às 02:01

"A verdadeira viagem da descoberta consiste não em buscar novas paisagens, mas em ter olhos novos."

Marcel Proust



Boa noite, Pedro. (ou Bom dia...)


Após alguns momentos de desvario, retomo a escrita um pouco mais organizada, tecendo alguns comentários como prometi. Sentei-me, na expectativa de que o teclado me fornecesse algumas directrizes que orientassem o meu discurso, face a um total desconhecimento do rumo a tomar.

Esta escrita desenhada a que nos fomos habituando, elevou inevitavelmente os patamares da nossa exigência, o que nos coloca de algum modo mais frágeis, na tentativa de não defraudar as expectações que criámos no outro lado. E nem sempre somos animados pelo mesmo estado de espírito, nem se mantém constante e equilibrada a fluidez criativa que, ora nos impele para locais mais introspectivos, ora nos confere uma liberdade humorística que nos supera.

O desfecho que acerco, compele-me para a revelação de um dos meus maiores defeitos ou feitios, conforme o entendimento de cada um, que não é mais do que o simples desassossego de que possa transparecer ou esboçar algum vestígio de fragilidade (que também tenho, como qualquer ser humano, e que até já abordámos). Aflige-me a fraqueza, a imperfeição, a incapacidade para suportar todos os fardos que carrego… tudo o que me possa imputar debilidade, ou causar decepção em quem quero bem. Sou demasiado exigente comigo em prol de uma excessiva tolerância e flexibilidade com os outros.

Ao longo dos últimos anos, fui tomando consciência da inexistência da perfeição, da ausência de excelência pela qual lutei e que não foi suficiente para evitar o fracasso de alguns projectos de vida. Familiarizei-me com o meio-termo que até aí era inexistente, abandonando gradualmente o radicalismo iminente de quem opta por abdicar do que quer que seja senão tiver garantias de mestria.

Esse tempo provou-me que todas as experiências são válidas, convencendo-me que o verdadeiro desperdício da vida encontra-se no amor que não damos, na força que desprezamos, na precaução egoísta que nada arrisca, porque ao esquivarmo-nos do sofrimento também abdicamos da felicidade.

Não eram propriamente estes comentários que tinha imaginado tecer, mas há momentos em que a velocidade dos acontecimentos é tão veloz, que nos orienta por novos caminhos que não os escolhidos.

Peço desculpa por não conseguir alhear-me, mas as minhas preocupações foram orientadas para o meu pai. Foi operado há duas semanas e, apesar da lenta recuperação, tudo indiciava que se dirigia de forma positiva até hoje. Esta noite, os sintomas que apresentava não nos descansavam até recorrer às urgências do hospital onde foi operado, em que confirmaram indícios da trombose que suspeitávamos. Foi imediatamente medicado e já regressou a casa, mas amanhã de manhã terá de ser observado pelo médico e sujeitar-se a uma série de exames exigidos nestas situações.

Estou confiante que tudo se irá solucionar da melhor forma, embora permaneça algum receio fruto da perda de dois familiares próximos, durante este ano. E talvez por se aproximar uma época em que me é inevitável fazer um balanço do que ficou para trás, recolho-me em receios provocados pelas saudades de quem nos deixa sem aviso prévio.
Reservarei, pois, mais alguns comentários para a próxima incursão neste espaço, esperando um regresso reforçado, caso não opte por desertar da leitura que lhe consagro.

Vou aproveitar a minha ousadia XL para me enroscar novamente na força do seu abraço, abrigando o embrião que sou nas suas mãos… (Já lhe declarei que uma das minhas fragilidades é precisamente a importância que atribuo à energia de um abraço?????)

Um beijinho muito doce para lhe dar os bons dias.

Inês

P.S. - Fiquei satisfeita em saber que preferiu o meu beijinho doce ao da vizinha :-)

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