quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Inês 3

Enviado a 8 de Dezembro de 2009, às 18.09h

Caríssimo Pedro

Que inveja (ui….que sentimento tão feio…) desse pedaço de sol que o abraçou pela manhã, dessa imensidão que apenas o mar consegue abarcar e da brisa que o acariciou suavemente…
Agracio-o por dividir comigo esses seus momentos ímpares, esses lugares seus que passam a ser igualmente meus…

Mas não me atribua exclusivamente o ónus desta empatia, desta cumplicidade partilhada, nem se incomode com interrogações acerca dos motivos que lhe deram origem, a menos que o entenda ser necessário. Afinal, "A vida é uma aventura saborosa".

Admito que em determinada ocasião também me senti impelida a fazê-lo, com receio de que lhe pudesse suscitar dúvidas sobre um possível desequilíbrio mental camuflado (Ahahaha…lá diz a sabedoria popular… que “de médicos e de loucos todos temos um pouco”). No entanto, no que me diz respeito, provavelmente apercebi-me da liberdade de tudo o que transparece nos seus nos gestos e nas palavras repletas de singular sensibilidade, que tão habilmente escreve … com que me delicia… ou quiçá, no seu profundo olhar….

O olhar tem esse encanto… tudo o que encerra… um passado, um presente e, um futuro desconcertante que apenas nos é oferecido através do que se adivinha nos misteriosos caminhos do desconhecido…
Com um simples olhar podemos confessar o que nos importuna, ou o que nos atrai…
Um simples olhar confere-nos a capacidade de conquistar, de derrotar, de amar ou odiar…

A verdade é que me é impossível encontrar um entendimento racional para a intensidade desta partilha, que de algum modo me baralhou os sentidos, tão subtilmente…. Certamente será justificada pelo sentir inexplicável de algo que ultrapassa, em larga escala, qualquer rasgo de razoabilidade…

Reconheço que é uma experiência inédita, pois nunca tinha mantido um registo desta natureza, tão prolongado, tão deliciosamente partilhado com ninguém, mas isso só por si lhe confere o exclusivo mérito que só a si assiste. (De repente lembrei-me de um anúncio publicitário antigo, que talvez se recorde…”Nunca um desconhecido me tinha oferecido flores!” … salvo raras excepções, os desconhecidos por norma oferecem sempre “outras coisas”…estou a brincar…ai, ai… Inês, tem juízo!)

Talvez porque adivinho que atribui a verdadeira essência a cada vocábulo, talvez porque as suas letras, com toda a sua identidade dançam num ritmo sincronizado numa dança que faz todo o sentido, incapazes de ser compreendidas pelos corações cépticos que morrem sem emoções pela descrença e ausência de fantasia, merecendo ávidos aplausos da plateia.

Não tenho dúvida que a maioria das pessoas prefere o conforto de uma vida acética e sem riscos.

Isso provoca que, cada vez mais, as pessoas se revistam de uma maior preocupação em fazer tudo o que é aceite pelos outros. O confronto da diferença pode originar o risco de se ser desnudado perante os outros. Por isso assistimos a um isolamento crescente, substituindo as tertúlias, o tempo com os amigos, pelas discotecas ensurdecedoras (atenção que eu não as condeno. Adoro dançar…até podia ter sido bailarina, se o sonho tivesse sido suficientemente majestoso) onde não se fala, e pela troca maciça de sms sem conteúdo. Escapa-se do esforço de pensar mas, há a recompensa de se ser, invariavelmente, reconhecido (e até invejado) pelos outros.

Sinceramente, não tenho muita paciência, nem espaço para aturar pessoas que, naturalmente ou com dedicado esforço, façam questão de ser iguais a todas as outras. Não me reconheço superior, antes pelo contrário, tento manter-me discreta, confundindo-me entre os corpos inanimados de quem já desistiu de viver, mas de trivialidades tenho como toda a gente a minha dose diária e, sobretudo, as minhas (não resisti a colocá-lo a par da calamidade que representa uma madeixa que teima em tomar o rumo contrário, ou de uma unha quebradiça que desconcerta toda a estética, ou daqueles bichinhos nocturnos que se dão pelo nome de calorias e atacam os roupeiros no silêncio da noite e nos impedem de vestir a toilette calculada…enfim, um cem número de trivialidades que invadem, particularmente, o universo feminino…), por isso não preciso de reforços.

Continuo a preferir a exposição e a transparência resultantes de uma boa conversa, mesmo consciente que já me provocou alguns dissabores. A intenção não será a de provocar os outros mas, apenas porque acredito ser uma das poucas formas de sermos honestos connosco. Essa transparência, que já foi alvo da nossa troca de impressões, com a tal fragilidade (ou não) de termos dado tudo, pode tornar-se também na robustez de nada termos a esconder.

Eu desejo permanecer assim… sempre com a capacidade de ultrapassar os obstáculos que a vida tem teimado em me colocar a cada instante, sem réstia de amargura ou desânimo, como resultado de tantas desilusões. Espero que, independentemente das regras que me são impostas diariamente, permaneça fiel ao que sou, na ambivalência do que devo e tenho de fazer e do que me apetece realmente, vestida com esta alma totalmente livre de tudo e todos.

Desconheço durante quanto tempo assim será, mas ainda existem muitas sementes dos meus sonhos no tempo que voa, a aguardar por um solo fértil onde plantar….

Se me é permitido dizê-lo…..ainda bem que está aí! Eu, cheguei acidentalmente, mas pretendo permanecer por aqui, para partilhar as alegrias, as tristezas, a raiva ou frustração, o contentamento ou a felicidade, até assim o entendermos.

Gostei muito do beijinho acompanhado pelo pólen do seu sorriso
Outro para si... doce…

Inês

P.S. – E dormiu bem?

Sem comentários:

Enviar um comentário